PACARAIMA: Padre é ameaçado de morte por defender imigrantes
Conflitos entre brasileiros e venezuelanos em Pacaraima, fronteira, estão longe do fim.
PASCOM MATRIZ DE SANTO ANDRÉ - SP
POR ROSINHA MARTINS
DE PACARAIMA - RR
Desde que a crise política e econômica da Venezuela fez evacuar para as fronteiras Colômbia, Guyana e Brasil, milhares de pessoas marcadas pela fome e o desespero de não poderem viver mais no seu país, os conflitos entre brasileiros e venezuelanos só tendem a aumentar na pacata cidade fronteiriça, Pacaraima- RR.
Para acalmar os ânimos nas ruas da cidade, o exército diariamente faz o papel de apaziguador e caminha em grupos pelas ruas para "manter a ordem".
De acordo com a Operação Acolhida que atua em Pacaraima prestando atendimentos emergenciais como vacinação, alimentação e despacho de documentos, todos os dias entram 800 imigrantes no Brasil. "Quem entra não quer mais voltar", explicou o membro da Operação, vindo do Rio Grande do Sul, o tenente Escobar.
Padre ameaçado de morte por defender os imigrantes
"Não. Não tenho medo de morrer! ", foi categórico o padre Jesus Bobadilla que está sendo ameaçado de morte por se colocar em defesa dos imigrantes.
Nascido em Marrocos e naturalizado espanhol, Jesus Bobadilla ampliou os espaços da sua paróquia em Pacaraima para prestar ajuda humanitária e espiritual aos venezuelanos. Serve cerca de mil e quinhentos cafés, e com ajuda das Scalabrinianas, por meio do Instituto Migrações e Direitos Humanos, organizou um pequeno espaço educativo para tirar das ruas as crianças indígenas Warao e crioulas (venezuelanas não indígenas).
"Já fui ameaçado várias vezes e a polícia federal veio avisar-me que minha vida estava em perigo e me ofereceram proteção. Se você faz uma pesquisa, sou a pessoa mais odiada de Pacaraima, mas fico feliz. Tem um ditado que diz que "ninguém joga pedras em árvores caídas", enfatizou.
De corretor de imóveis de luxo a missionário no Brasil
Padre Jesus recebeu o chamado a ser missionário bem tarde. Tudo aconteceu durante uma viagem que ao Brasil para visitar um amigo e conhecer o carnaval do Rio. Viajou durante dois anos pelo Brasil e foi a sua convivência com ribeirinhos em Caracaraí, em Roraima que o fez decidir pelo sacerdócio. Antes disso, na Espanha, Jesus era corretor de imóveis de alto luxo e até os 44 anos viveu em Madri.
Entendendo as razões da imigração venezuelana
A principal causa da saída de pessoas da Venezuela é a carestia. O alto preço no mercado e valor do salário mínimo impedem o povo de permanecer no país e são forçadamente jogados para fora e sob a acusação de Maduro que constantemente repete aos que partem: "são uns traidores da pátria".
O salário mínimo na Venezuela é de 40 mil bolívares, o que equivale a R$8,00. Dois quilos de arroz nas prateleiras dos supermercados custam 22.600 bolívares.
"Em minha casa, eu, meu marido e os filhos gastamos ao dia 2kg de arroz. É muito difícil", disse uma senhora na cidade de Santa Helena do Uairen, Estado de Bolívar.
Pela manhã pudemos assistir crianças indo para a escola com um cafezinho ralo e sem nada para comer, pois é preciso economizar o pouco que se tem para não faltar amanhã.