PAPA FRANCISCO

11/02/2021

FRATELLI TUTTI

Nesta edição e nas próximas abordaremos mais a fundo essa riquíssima Encíclica do Papa Francisco

FRATELLI TUTTI - A PÉROLA DO TESOURO... I

Ao falar do Reino, Jesus usou inúmeras parábolas, entre as quais a do tesouro escondido e a da pérola preciosa (Mt 13, 44-56). E como o Senhor prometeu que "nos daria pastores segundo seu coração" (cfr. Jer 13, 15), o escolhido para estar à frente da Barca de Pedro nos tempos difíceis que vivemos, tem revelado continuamente a "eleição do coração do Pai" em tudo o que diz e escreve... Por isso sua palavra é, sim, como o tesouro escondido no campo que se abre diante de nossos olhos, e como a pérola preciosa pela qual vale a pena sacrificar tudo o que consideramos valioso.

Desejo ardentemente que, neste tempo que nos cabe viver, reconhecendo a dignidade de cada pessoa humana, possamos fazer renascer, entre todos, um anseio mundial de fraternidade. FT 8

PASCOM MATRIZ DE SANTO ANDRÉ - SP
POR MARIA ELISA ZANELATO
DE SANTO ANDRÉ - SP

Pela segunda vez Francisco nos oferece um documento cujo nome é tirado de palavras que saíam da boca do outro Francisco, aquele que chamava de irmãos e irmãs as pessoas, os animais, a natureza. Nessa carta encíclica Sobre a Fraternidade e a Amizade Social, o Papa destaca o convite do poverello para que vivamos "um amor que ultrapasse as barreiras da geografia e do espaço" (FT 1).

Em seus 287 parágrafos agrupados em 8 capítulos, esse precioso documento aborda um velho tema - o da fraternidade - que se tornou novo na circunstância específica da atual pandemia e ganhou o título de "amizade social". Vamos sobrevoar esses capítulos, em duas partes, para despertar o desejo de aterrissar sobre cada um e dar-lhe a atenção necessária para assimilar seu rico conteúdo.

Francisco começa falando das "sombras de um mundo fechado" (cap. 1) que se caracteriza pelo fim da consciência histórica, pela ausência de um projeto para todos, pela cultura do descarte, pela generalização dos conflitos e do medo, pelos efeitos da globalização, pela falta de dignidade humana a que se sujeitam os migrantes, pela ilusão da comunicação, pela agressividade, pela informação que carece de sabedoria, pela sujeição dos países que abrem mão dos valores de sua própria cultura para imitar os países desenvolvidos, mas que, acima de tudo, continua a ter esperança!

Para abordar o valor "fraternidade que não conhece fronteiras", o Papa nos fala de "um estranho no caminho" (cap. 2), apresentando-nos a maravilhosa parábola do bom samaritano. Mostra que as raízes das sagradas escrituras valorizam a assistência ao estrangeiro, ao migrante, ao abandonado, e enfatiza os critérios com os quais serão julgados os que se dizem crentes, tão bem descritos no último capítulo do Evangelho de São Mateus, e que podem ser resumidos num só: seremos julgados pelo amor - o amor que alimenta o faminto, veste o nu, acolhe o peregrino.

Ao mundo fechado, prossegue o Papa, é preciso "pensar e gerar um mundo aberto" (cap. 3), um mundo onde o amor seja o valor único, voltado para a comunhão universal através de sua progressiva abertura, no qual os valores de liberdade, igualdade e fraternidade nos ajudem a sair do individualismo e nos levem a promover os demais, valorizando a solidariedade, repropondo a função social da propriedade e desvinculando os direitos das fronteiras, para que o lugar em que nascemos não seja o fator determinante do nosso direito ao respeito e à dignidade.

Devemos ter um coração aberto ao mundo inteiro, diz o Papa (cap. 4), de modo que os limites das fronteiras não sejam causa de discriminação, pois todos os homens e mulheres têm qualidades e dons que podem pôr a serviço, independentemente do lugar em que tenham que viver, pois o intercâmbio é desejável e fecundo quando existe acolhida, quando se deixa de lado o bairrismo e quando se tem horizontes universais.

Enfatiza o papa Francisco a seguir (cap. 5) que para desenvolver uma comunidade mundial capaz de realizar a fraternidade é necessária a "política melhor", aquela colocada a serviço do verdadeiro bem comum, a que não é populista, a que respeita os limites das visões liberais, a que não reconhece a onipotência do poder internacional capaz de pisar a dignidade do ser humano, mas a que regule com justiça as reivindicações, aquela capaz de promover uma caridade social e política, que inclui até mesmo o amor político, aquele que leva a reconhecer no outro um irmão ou uma irmã, pois esse é o amor eficaz, capaz de sacrifícios, capaz de integrar e reunir.