QUANDO PEDALAR SE TORNA SINÔNIMO DE AMOR AOS IMIGRANTES

PASCOM MATRIZ DE SANTO ANDRÉ - SP
POR ROSINHA MARTINS 
DE BOA VISTA - RR

"O calor sem tréguas, quase me fez desistir da missão, mas o olhar das crianças em especial, seus apelos, calaram profundamente em mim", conta Irmã Ana Beatriz Minuscoli, missionária scalabriniana que pedala por amor aos imigrantes em Boa Vista- RR.

Quem conhece Boa Vista, onde o sol escaldante eleva a temperatura entre 30 e 33ºC, há de concordar que pedalar para realizar a missão é mesmo sinônimo de muito amor.

Irmã Beatriz não mede esforços para encontrar os imigrantes e fazer-lhes um pouco de bem. Em sua bicicletinha vermelha e usando um chapeuzinho cor-de-rosa para driblar o sol, tez ítalo-brasileira, a religiosa pedala todos os dias para estar junto aos imigrantes venezuelanos que moram de forma precária em áreas públicas de Boa Vista-RR.

Além de ser uma exímia pintora, Irmã Ana Beatriz faz atendimento na área da saúde e pastoral da criança. "Três vezes por semana me ocupo com a saúde de funcionários e migrantes na sede da Cáritas, na Igreja Consolata e na Comunidade Perpétuo Socorro, e auxilio no cadastramento de migrantes para efetuar documentação", conta.

Quando pedalar se torna sinônimo de amor

Gaúcha da cidade de Casca - RS, Irmã Ana Beatriz chegou em Boa Vista, no dia 28 de junho de 2018. Ela explica que a bicicleta sempre fez parte da sua história. Já em sua terra natal, como professora costumava ir de bike para o trabalho.

Agora em Boa Vista, Irmã Beatriz acompanha a comunidade indígena e crioula que chegaram da Venezuela. A falta de vagas nos abrigos montados pela Operação Acolhida do governo brasileiro, força os venezuelanos a ocuparem diversos locais na cidade. No mês de março deste ano, um grupo de aproximadamente 600 pessoas entre indígenas Warao e E'ñepa, e venezuelanos, passou a viver em um complexo esportivo abandonado, espaço que recebeu o nome de "Ka Ubanoko" (dormitório comum na língua warao). A comunidade conta com cerca de 200 crianças, das quais apenas 15 têm acesso à escola. É para este lugar que a Irmã Beatriz pedala todos dias. "Gosto de ir ao Ka Ubanoko de bicicleta porque isso me aproxima deles. Acho muito divertido, principalmente dar carona para as crianças", diz sorrindo com brilho nos olhos.

Bicicletinha missionária que mata a fome

A bicicleta vermelha da Irmã Beatriz não serve somente para se deslocar e dar carona para a meninada que se diverte junto com ela. A scalabriniana usa a bicicleta para carregar lenha para que os indígenas possam cozinhar. "Eles cozinhavam com a lenha que encontravam pelo caminho, mas com o tempo, ficou escassa, então arrumei uma forma de resolver o problema", relata ela. Ao tomar conhecimento de que na Igreja São José Operário dos Frades Franciscanos havia lenha que podia ser doada, convidou as crianças e os jovens indígenas para irem com ela. "Já fizemos várias viagens. Não tem preço ver naqueles rostos a alegria incontida". E a bicicleta retorna ao 'Ka Ubanoko' carregando lenha e alegria. Isso dá a sensação de missão cumprida.

"Vê-los felizes me faz muito feliz. Meu sonho é que nenhum ser humano se perca."

De forma contagiante Irmã Beatriz não mede as palavras para expressar o amor em frase e pedaladas. "Me sinto como uma amiga deste povo muito querido. Me alegro cada vez que faço um pouco de bem sem saber a quem. Sinto que meu coração se 'alargou' nesta terra amazônica. Meu sonho é que nenhum ser humano se perca.