DOCUMENTOS DA IGREJA
Sínodo da Amazônia: momento de graça para uma Igreja missionária e profética
POR: Pe Sidnei Marco Dornelas cs
O Sínodo, desejado e convocado pelo Papa Francisco, foi o momento mais forte dessa caminhada. Nele, o rosto da Igreja da Amazônia, com toda a sua diversidade, pode brilhar para o mundo todo.
Em nome da Congregação dos Missionários de São Carlos, tive a oportunidade de participar do Sínodo Extraordinário da Amazônia. Foi um momento de graça, em que representantes das Dioceses dos nove países da Panamazônia (Brasil, Bolivia, Perú, Colombia, Equador, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa) trabalharam na busca de novos caminhos para a evangelização e a ecologia integral nesse território. Participei nesse esforço coletivo que, na verdade, começou muito tempo antes. Os Bispos da região com as pastorais, congregações missionárias, institutos missionários, agências de cooperação fraterna vêm há muitos anos buscando caminhos comuns para a missão. Essa escuta mútua veio crescendo com o tempo, e cada vez envolvendo mais pessoas e grupos, como os povos tradicionais, indígenas e afrodescendentes. O Sínodo, desejado e convocado pelo Papa Francisco, foi o momento mais forte dessa caminhada. Nele, o rosto da Igreja da Amazônia, com toda a sua diversidade, pode brilhar para o mundo todo.
Assim, podemos dizer que o Espírito Santo soprou e a Graça de Deus se manifestou numa assembléia cheia de fraternidade. Com os Bispos da Panamazônia também participaram religiosos, missionários, lideranças de comunidades, teólogos, lideranças indígenas, convidados de organismos internacionais, além do próprio Papa e os Cardeais da Cúria Romana. Apesar das divergências, o respeito e a acolhida mútua sempre prevaleceram, e todos tiveram a mesma oportunidade de se manifestar. Dessa longa escuta e dos debates realizados durante os grupos de trabalho surgiu um rico painel da realidade da Igreja na Amazônia, com suas angústias e esperanças. Por um lado, manifestou-se a riqueza e diversidade da natureza e da cultura dos povos. Por outro, foram denunciadas as muitas ameaças que pairam na região, a ganância dos que exploram inescrupulosamente suas riquezas naturais, que desrespeitam a vida e os direitos dos povos tradicionais. Ameaças graves que também vêm da urbanização desordenada, da violência no campo e na cidade, da perda de valores culturais, do tráfico humano, da perseguição aos defensores do meio ambiente e dos povos indígenas.
Nesse sentido, esse Sínodo foi um momento de testemunho e profecia. E essa foi a grande novidade desse Sínodo: a Igreja missionária na Amazônia deixou por um momento de ser relegada a ser um "quintal", disponível para ser colonizado pelas grandes potências (incluido o Brasil), para ocupar a cena principal, e mostrar o seu rosto. Um rosto com marcas de muitos sofrimentos, mas que mostra também uma imensa beleza, que traz esperança, não só para a Igreja, mas para todo o mundo. Os povos da região não têm vergonha de mostrar seu sofrimento, sua pobreza, e mesmo sua revolta com aqueles que destróem aquilo que Deus criou. Mas, sobretudo, trazem lições importantes para sabermos como cuidar de nossa "casa comum", a criação que Deus nos confiou. Assim, o Sínodo nos ajuda a colocar em prática o que o próprio Papa já vinha ensinando na enciclica "Laudato Si´", sobre o cuidado da casa comum. Com seu testemunho profético contribui para mostrar como a Igreja pode ajudar no combate ao aquecimento global e às mudanças climáticas. Mostra que outra maneira de viver é possível, atentos à sabedoria que os povos tradicionais podem nos ensinar.
Enfim, esse Sínodo foi também inesquecível como aprendizado sobre a chamada "sinodalidade". Foi uma Assembléia em que praticamos o que significa ser "Igreja", caminhar juntos como Povo de Deus. Um encontro em que o esforço de todos se orientou para a busca de novos caminhos para a Igreja. E isso a partir das fronteiras da missão, da voz dos mais pobres, num clima de oração, deixando ressoar o que o Espírito quer hoje dizer às Igrejas.